Radamés / Fala Maestro!

Em 1910 eu tinha 4 anos e vi o Cometa Halley. Eu estava começando no piano”

Os textos a seguir são um resumo de entrevistas e depoimentos concedidos por Radamés, entre 1976 e 1985.

• Depoimento gravado no Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro, para o Ciclo Personalidades, em 28 de agosto de 1985.
• Entrevista concedida ao jornalista Luiz Carlos Saroldi para o programa Especial JB, de 11 de outubro de 1977, na Rádio Jornal do Brasil FM.
• Entrevista concedida à jornalista Mara Caballero para o Jornal do Brasil de 1 de dezembro de 1976. [Radamés completara 70 anos em 27 de janeiro].
• Entrevista concedida ao jornal semanal O Pasquim para a edição de 6 a 12 de maio de 1977.
• Entrevista concedida a Hermínio Bello de Carvalho, para o programa CONTRA/LUZ da TVE do Rio de Janeiro, gravado em 1985.

INCLUINDO:
• Trechos da entrevista de Aída Gnattali, pianista e professora, irmã de Radamés, concedida à pesquisadora Maria Clara Wasserman, em 2004.

Raizes

INFÂNCIA
“Nasci no dia 27 de janeiro de 1906, na Rua Fernandes Vieira, em Porto Alegre [RS]. Era o mais velho dos irmãos. Meu nome não era para ser Radamés, mas Ernani. Mas nasceu o filho de uma parenta e ela lhe deu o nome de Ernani. Então, quando eu nasci, minha mãe me deu o nome de Radamés. Quando o meu irmão nasceu, minha mãe, então, deu a ele o nome de Ernani. Depois vieram a Aída, o Alexandre e a Maria Terezinha.”

ALESSANDRO GNATTALI [Alexandre, no Brasil]
“Meu pai era operário; quando veio da Itália, em 1896, era marceneiro. Como gostava muito de música [tocava um pouco de bandolim], ele estudou piano, contrabaixo, foi fagotista de orquestra, escrevia música, depois acabou sendo maestro, dirigindo orquestras.”

ADÉLIA FOSSATI GNATTALI
“Minha mãe era dona de casa, fazia todo o serviço de casa (todo, mesmo!) e ainda tinha tempo pra ensinar música aos filhos. Era uma mulher extraordinária. Minha irmã Aída sempre fala que ela tinha uma intuição musical fabulosa.  Ela lia muito. Com 15 anos eu já lia Crime e Castigo, essas coisas”.

PRIMEIRAS LETRAS
“Quando comecei a estudar foi em italiano. Primeiro, eu estudei numa escola que tinha na mesma rua onde morávamos. Todo bairro tinha uma espécie de clube de italianos, de operários italianos. Aquele lá chamava-se ‘Helena de Montenegro’, que era filha do rei da Itália [Nicolau I de Montenegro]. Nesse clube tinha jogo de bocha, faziam baile, davam aulas, tinha uma professora de italiano que dava aula para as crianças.”


PRIMEIROS “ARRANJINHOS”
[Aos nove anos, Radamés foi condecorado pelo cônsul da Itália, com uma medalha, por ter regido uma pequena orquestra de crianças na Sociedade Italiana, executando arranjos de sua autoria (…). Aída: “mamãe contava que as crianças foram parando de tocar, uma a uma, porque os ‘arranjinhos’ não eram lá muito fáceis. Radamés foi ficando nervoso, afobado, mas continuou tocando até o fim, foi o único que não parou”].

“Ah, aquilo foi uma brincadeira, uma palhaçada!”

FORMAÇÃO COLEGIAL
“Meu pai me colocou no Ginásio Anchieta. Eu estudei lá até os 14 anos. Mas eu não gostava daquilo, porque eu era gago e só tirava zero nas provas orais. Eu não queria estudar, era vagabundo, meu pai achava ruim, era aquele ‘troço’. Até que ele chegou e disse: Mas, o que você quer fazer, afinal? Eu respondi: Eu quero estudar música! Aí ele me tirou da escola, do ginásio, e fui estudar particular (…).”

Radamés aos nove anos condecorado pelo cônsul da Itália.

Formação musical

“Eu comecei com minha mãe, com três, quatro anos, estudando piano. Com 14 anos, fiz um exame de admissão [para o Conservatório Musical de Porto Alegre] e me puseram no 5º ano de piano, na aula do prof. Guilherme Fontainha[1]. Eram nove anos, naquele tempo. Agora mudou, não sei como é mais o sistema. Fiz um estudo de nove anos tocando Bach, Chopin, Beethoven.”

“Estudei um pouco de flauta, de clarinete, estudei violino oito anos, junto com o piano, que isso é muito bom para conhecer cordas. Estudei com uma prima, grande violinista[2]. Mais tarde fizeram um quarteto em Porto Alegre e eu fui tocar viola no quarteto[3], durante dois anos, com um repertório ótimo. Aprendi muito. Depois parei, por causa do piano. Cordas eu conheço bem. Eu sei bem pistom; saxofone, mais ou menos.” 




“Estudei harmonia com algumas pessoas. Com Agnelo França[4], aqui no Rio [durante 1 ano, aproximadamente], mas eu não gostava. Estudei com o Paulo Silva[5] e um dia perguntei para ele se estudar contraponto me ajudaria a sair daquela situação… [Radamés andava inseguro, com relação ao estudo formal de composição]. Ele disse para eu continuar o que estava fazendo porque [estudar contraponto] não ia adiantar nada”.

NOTAS: 

[1] Guilherme Fontainha (1887-1970). Pianista formado na Europa, musicólogo e professor de piano, foi diretor do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul a partir de 1916. No Rio de Janeiro, assume em 1931 a direção do Instituto Nacional de Música da extinta Universidade da atual Escola de Música da UFRJ.

[2] Olga Fossati, violinista premiada em concurso na Bélgica, com 14 anos. Olga gravou na Casa Edison do Rio de Janeiro, por volta da década de 1930.

[3] Quarteto Henrique Oswald, integrado pelos irmãos Sotero e Luis Cosme (1º e 2º violinos), Radamés Gnattali (viola)  e Arduino Rogliano ou Carlos Kromer (violoncelo). 

[4] Agnelo França (1875-1964). Compositor, pianista, regente, professor catedrático de harmonia da Escola de Música da UFRJ. Foi professor de harmonia de Radamés, H. Villa-Lobos, Luciano Gallet.  

[5] José Paulo Silva, (1892-1967). Instrumentista, compositor, maestro, professor livre-docente de harmonia, contraponto e fuga da Escola de Música da UFRJ. Publicou diversos livros didáticos de música, dentre os quais, Manual de Harmonia, Curso de contrapontoMaual de FugaLinguagem da Música, entre outros.

Primeiro concerto

“O primeiro concerto que fiz foi com 18 anos, em 1924, no Rio de Janeiro, quando cursava o último ano de piano. O Fontainha [seu professor de piano e diretor do conservatório] me trouxe para o Rio, para apresentar um aluno dele (…) acho que ele queria arranjar emprego na Escola de Música (…) depois até foi contratado mesmo [em 1925]. Toquei Liszt e um concerto de órgão de Wilhelm Friedemann Bach, transcrito para piano. Foi na Escola Nacional de Música e o Fontainha convidou os críticos todos, até a Guiomar Novaes estava lá.”

FORMATURA
“Depois do concerto no Rio de Janeiro, voltei para Porto Alegre para fazer os exames finais. Deu uma encrenca danada com os outros alunos. Eu tinha faltado muito, tinha ficado fora mais de três meses e os outros acharam que eu não podia fazer os exames. Só que eu estava no Rio de Janeiro com o professor, que era diretor do Conservatório, e ninguém pôde falar nada. Fiz o concurso que era realizado no conservatório e ganhei o Prêmio Araújo Vianna, com medalha de ouro.”

Primeira crítica

 

Os primeiros "cobres" como pianista

“Com 18 anos, enquanto eu estudava no Instituto teoria, solfejo, piano e violino, tocava ao mesmo tempo num cinema para ganhar uns cobres. Em 1924, integrei uma pequena orquestra [a Ideal Jazz Band  – ver partitura ao lado]. A gente tocava no Cinema Colombo, no bairro Floresta, e ganhava dez mil réis por dia. As partituras eram pot pourri de canções francesas, italianas, operetas, valsas, polcas. Nós líamos tudo o que havia na estante enquanto na tela passavam os filmes mudos. Nessa época eu tocava também Villa-Lobos, Nazareth.”

 “Os Exagerados” – Bloco carnavalesco em que Radamés tocava cavaquinho.
(ao violino, Pascoal Fossati, primo de Radamés)
 

 

Malandro (c. 1924/26) – uma das composições mais antigas de Radamés

Malandro era o apelido de Radamés, quando garoto, segundo sua irmã Aída.

De Acordo com anotação manuscrita na capa da partitura de Malandro, a  Ideal Jazz Band era formada por piano (Radamés), violino, flauta, violoncelo, trompete, trombone e contrabaixo. Não há menção à percussão.    

O concertista

Escrever é fácil, difícil é tocar piano”

“Naquele tempo eu não ouvia música, só tocava. Tocava Villa-Lobos, Nazareth, meu pai comprava tudo. Ouvir, mesmo, só muito tempo depois, com 24, 25 anos, quando já tinha vitrola. Eu comecei como concertista. Terminei meu curso em Porto Alegre e vim para o Rio para ser concertista. Eu tinha qualidades para isso. Mas não havia possibilidade de viver só de concerto. Hoje, há uma porção de sociedades que dão bolsas de estudo, mas naquele tempo não havia. Então eu tive que ir para a música popular para sobreviver.”


“Eu tenho muita inveja desses pianistas todos, como o Estrela [Arnaldo Estrela], o Moreira Lima [Arthur Moreira Lima], esses pianistas todos que vivem disso, porque o que eu gosto, mesmo, é de tocar piano. Mas para isso tem que estudar, no mínimo, oito horas por dia, não se preocupar em ter que trabalhar para ganhar dinheiro. Eu gostaria de ser um grande pianista.”

“Eu não toco mais piano, mas gostaria de tocar. Há mais de seis meses estou estudando para ver se consigo tocar como tocava quando tinha 20 anos [dito à imprensa em 1984, aos 78 anos]. Tá difícil, mas eu vou chegar lá”.
Vou gravar o Nazareth, com dois pianos.” [Radamés não concretizou este projeto]

O professor

“Eu já sabia que isso aqui era uma esculhambação [o Rio de Janeiro, capital do país], já funcionava o negócio de pistolão. Eu vim definitivamente para o Rio em 1931. O Fontainha [seu professor de piano em Porto Alegre] praticamente nunca me ajudou em nada, mas dessa vez ele me escreveu dizendo que tinha uma vaga na Escola de Música [UFRJ] para a cadeira de professor catedrático e perguntou se eu não queria concorrer. Eu larguei tudo em Porto Alegre e vim para cá. Fiquei aqui estudando quatro ou cinco meses à espera do concurso. Mas fui falar com Getúlio [presidente Getúlio Vargas]. Eu trouxe uma carta do Raul Pilla, que era um político muito bom. Inimigo do Getúlio, mas que Getúlio respeitava. Entreguei a carta na portaria. Alguns dias depois chegou um telegrama para eu ir lá que ele ia me receber. E ele disse:

– O que o senhor quer?

– Só quero saber se o concurso vai ser realizado no fim do ano, mais nada.
– Tem minha palavra!

“Mas não houve concurso nenhum.”
[Segundo Radamés, Getúlio nomeou alguém para o cargo.]

A decepção foi tão forte que Radamés tornou-se refratário à ideia de ser professor em escolas de música.

“Eu acho que ninguém pode ensinar música a ninguém. Eu não sei ensinar, não tenho paciência. Só tive um aluno, de quatro anos, que tinha talento, em Porto Alegre. Eu tinha vontade de ensinar, com a minha experiência, mas ensinar o quê eu não sei, não sei como.”

Vida Profissional

PRIMEIROS ANOS NO RIO DE JANEIRO

“Aquele era o tempo da miséria, da fome. Todo mundo, eu, os músicos, o Murilo Mendes [escritor e poeta] (…) a gente se reunia na casa do Portinari em Laranjeiras. A gente ia pra lá. O Portinari ficava pintando o tempo todo… a gente batendo papo.”

[Radamés se refere aos primeiros anos da década de 1930 quando, já casado, morando no Rio de Janeiro, não conseguia sobreviver como concertista, não tinha emprego fixo e ganhava mal como pianista de música popular.]

INGRESSO NO RÁDIO

“Eu vim ao Rio de Janeiro, a primeira vez, em 1924 [com 18 anos][1]. Foi a primeira vez que eu toquei em rádio. A Rádio Clube do Brasil tinha um estúdio no Largo do Machado. Só tinha um piano, não tinha orquestra, nada. Foi lá que toquei a primeira vez. Depois, mais tarde, em 1930 mais ou menos, a data eu não me lembro, eu comecei a tocar na Rádio Clube como músico da orquestra. Depois fui para a Cajuti e depois fui para a Nacional. Antes passei, também, pela Mayrink Veiga.”

“Na (rádio) Mayrink Veiga eu tocava tudo, popular e erudito. Ganhava mal. Eu tocava piano em todas as orquestras da rádio e ainda acompanhava os cantores que iam lá[2]. O violonista recém-contratado ganhava mais do que eu. Aí eu fui embora. Quando saí, tiveram que contratar quatro pianistas. O César Ladeira mandou a orquestra toda me chamar lá em casa e perguntar quanto é que eu queria para voltar. Eu não queria nada, não. Você fica com a tua rádio lá, que eu não quero.”

O arranjador

“Eu gravei minhas primeiras composições na Victor (gravadora RCA Victor). Quando aparecia um trio – piano, clarinete e bateria – era eu, o Luís Americano e o Luciano Perrone. Depois apareceu aqui um conjunto com saxofone barítono para fazer uns arranjos para o Orlando Silva. Esses troços meio malucos. Mas foi ótimo porque a gente vai aprendendo.”

“(…) na Rádio Nacional, por exemplo, tinha uma orquestra de jazz, tinha uma orquestra de tango e eu era o pianista. Naquele tempo não tinha orquestra de música brasileira, tinha regional e orquestra de salão, com cordas e flautas, para tocar trechos de operetas, árias de óperas. Já vinha tudo impresso, tudo de fora. (…) eu comecei a fazer pequenos arranjos para trio – eu no piano, o Iberê [Iberê Gomes Grosso] no violoncelo e o Romeu Ghypsman, no violino. Eu comecei a fazer pequenas peças, como toada, choro, valsa. Porque naquele tempo não tinha um roteiro: um buraco na programação, eu tocava alguma música para tapar esse buraco. Daí comecei a escrever. Depois os cantores começaram a gostar e pediram para eu fazer os arranjos.”

 “Os arranjos orquestrais passaram a ser habituais na década de 1930, encomendados, principalmente, por Mr. Evans, diretor da RCA Victor, para as gravações de Orlando Silva, Francisco Alves, Sílvio Caldas. Esse Mr. Evans encarregou a mim e ao Pixinguinha de cuidar dos arranjos das médias e grandes orquestras da RCA. Ele queria dar um tom mais profissional às gravações, a fim de competir, com mais apuro, com o disco estrangeiro, que chegava ao Brasil com belos arranjos orquestrais. Ouvia-se muita música brasileira e Mr. Evans chegou a trazer de São Paulo o maestro Galvão, a quem encomendou os primeiros arranjos. Pixinguinha trabalhava mais com os arranjos carnavalescos, que eram o seu forte, ficando a parte romântica comigo e outros maestros.”

“Eu poderia, se quisesse, ter entrado em muita parceria, pois não faltavam propostas de compositores. Isso, contudo, eu achava abominável ficando, até mesmo, com o modesto cachê de arranjador que dava para comprar um bom par de sapatos e nada mais. O cachê variava entre quarenta e cinquenta mil réis”.

“Se eu tivesse ganho pelo menos uma pequena parte de tudo o que eu escrevi, de 1930 até hoje, estaria rico. O pior é que a marginalização do arranjador continua a mesma. Ele ganha apenas um magro cachê. Na Europa, o arranjador recebe parte do direito autoral. Aqui não recebe nada.”

NOTAS: 

[1] Acompanhado do seu professor e diretor do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, Radamés veio ao Rio de Janeiro, especialmente, para realizar o seu primeiro recital, no Instituto Nacional de Música, atual Escola de Música da UFRJ. 

[2] Num breve levantamento nos jornais cariocas entre 1924 e 1934, constatamos que o “professor Radamés Gnattali”, de fato, dominava tanto o repertório clássico, quanto o popular. Radamés tocava de tudo: Bach, Beethoven, Schumann, Chopin, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, o que viesse. Além disso, acompanhava cantores liricos, participava ativamente de duos, trios, quartetos, orquestras de música erudita e popular ao lado de grandes nomes da cena carioca tais como os violinistas Romeu Ghipsmann, Oscar Borgerth, o violoncelista Iberê Gomes Grosso, o pianista Arnaldo Estrela, os músicos populares Pixinguinha, Luiz Americano, João da Baiana, Marçal. 

 

Desfazendo um mito histórico

Aquilo é do Ary”

“A Aquarela do Brasil foi composta para a revista Joujoux e Balangandans, em 1939. Na entrada [o famoso tan, tan, tan – tan, tan, tan] o Ary queria botar nos contrabaixos. Aí eu disse:”

Ô Ary! Faz a música que eu faço o arranjo!”

“Aí eu botei aquilo nos saxofones, que dava mais impacto. Foi só isso, aquilo não é meu, não.”

Rádio Nacional

“Eu não gosto nem de lembrar daquilo, era uma exploração desgraçada. Exploravam todos os músicos. Quem ganhava bem lá era a direção. Todo mundo rico, todo mundo tomando uísque.”

“Eu trabalhei 30 anos na Rádio Nacional[1] e nunca fui diretor de nada. Um dia, eu cheguei lá e vi no quadro minha nomeação como diretor artístico. Aí eu fui ao Pedro Calmon [diretor geral] perguntar qual seria a minha função. E ele: a sua função é procurar melhorar o nível da programação. Eu disse: então tá, vamos cortar esse programa, esse e esse, porque são uma droga completa. Aí ele disse: Ah! mas não pode porque esses aí têm anunciantes… Eu digo: Então já não sou mais diretor. Pedi demissão.”  

“A Rádio Nacional era uma esculhambação. Não saía uma lei… [que desse estabilidade aos funcionários]. Quando saía uma lei beneficiando os funcionários públicos, nós não éramos funcionários públicos. Aí saía outra lei…e era sempre a mesma coisa.”

“A qualidade das músicas da Rádio Nacional era porque eu fazia, o Leo fazia [maestro Leo Peracchi], o Lyrio fazia [maestro Lyrio Panicali]. Nós éramos responsáveis por todas as coisas boas que se fazia por lá. A orquestra era boa, porque a Rádio Nacional funcionava como vitrine para aquele pessoal que ganhava pouco, mas ia fazer show fora”.  

Um milhão de melodias

“Eu trabalhava todo dia na Rádio Nacional. Ensaiava duas horas por noite. Aí, o [inaudível] foi lá na Rádio, falar com o José Mauro e comigo para fazer um programa de música popular de meia hora, com nove músicas, ligadas uma na outra. O programa era o Um Milhão de Melodias. Aí eu disse pro Zé Mauro: eu posso fazer isso, mas não venho mais trabalhar aqui como pianista, não. Acabou esse negócio. Agora eu venho aqui para fazer o programa nas quartas feiras e acabou. Não ia ganhar mais por isso, não. O programa era na quarta-feira. Eu trabalhava quinta, sexta e sábado. Fazia tudo e entregava ao copista. A segunda e a terça-feira eram para fazer o que eu quisesse. (…) O programa todo era uma espécie de parada musical. Eu fazia nove arranjos por semana, para esse programa. (…) Quem escolhia as músicas era o Paulo Tapajós e o Haroldo Barbosa, que era o discotecário da rádio e estava por dentro de todas as músicas de sucesso, do mundo inteiro.”

“Eu só fazia o Um Milhão de Melodias. O Lyrio Panicali fazia a orquestra dramática e o Leo Peracchi a música sinfônica. Porque tinha orquestra sinfônica na Rádio Nacional.

Eu podia fazer qualquer coisa na Rádio Nacional. Tenho muita música sinfônica lá[3] . Não tinha esse negócio comercial. A Rádio Nacional não precisava de dinheiro. Quando o Gilberto de Andrade tomou conta da estação, ele disse: vocês façam o que quiserem, gastem o dinheiro que tiverem.
Aquilo era do governo. A Globo, por exemplo, é uma estação comercial, tem que dar ao anunciante o que ele quer.”

NOTAS: 

[1] Radamés ingressou na PR-8 – Sociedade Rádio Nacional do Rio de Janeiro – em 1936 , ano de fundação da emissora. Inicialmente, como pianista da orquestra passando, em pouco tempo, a arranjador e maestro.

[2] Em 1943, a Rádio Nacional estreia o programa Um Milhão de Melodias patrocinado pela Coca-Cola. O programa, criado para alavancar o lançamento do refrigerante no Brasil, fcou 13 anos no ar.

[3] De fato, Radamés compôs e/ou estreou várias obras sinfônicas e de câmara na Rádio Nacional dedicadas a músicos da orquestra da casa, tais como o trompetista Marino Pizziali (Fantasia Brasileira nº 2), o trombonista Waldemar Moura e o baterista Luciano Perrone (Fantasia Brasileira nº 4), os violonistas Garoto e José Menezes (Concertinos nº 2 e 3 para violão e orquestra, respectivamente), o violinista Irani Pinto (Valsa, Samba-canção e Choro), o saxofonista Sandoval Dias (Brasiliana nº 7), entre outros.

Orquestra Brasileira de Radamés Gnattali

“(…) o jazz, por exemplo, é muito baseado no piano, bateria, contrabaixo e guitarra. Eu então disse: pra fazer uma boa orquestra de música brasileira, precisamos ter uma boa base. Então, tinha dois violões, cavaquinho [Garoto, José Menezes e Bola Sete][1]. Às vezes três cavaquinhos, conforme o arranjo que eu queria. Tinha o Chiquinho do Acordeom, o contrabaixo acústico [Pedro Vidal], tinha uma bateria espetacular, que era o Luciano [Luciano Perrone]; o João da Baiana, no pandeiro (o pessoal que toca pandeiro por aí precisava ouvir o João da Baiana, pra ver como se toca pandeiro), o Heitor dos Prazeres, que tocava caixeta, prato e faca e o Bide, que tocava ganzá. Era uma massa muito boa.”

NOTAS: 

[1] Aníbal Augusto Sardinha (Garoto); Djalma de Andrade (Bola Sete).

O compositor

“Minhas peças prediletas são os 12 concertos para piano, quatro concertos para violino, três para violoncelo, um para saxofone, bandolim, harpa…

Tenho de tudo, até mesmo uma cantata de umbanda com texto do Bororó [Alberto de Castro Simões da Silva]. É a cantata Maria Jesus dos Anjos, para coro, narrador e orquestra (…) apresentada no Theatro Municipal. O Bororó fez o texto todo e compôs alguns pontos. O Pai Jerônimo, do centro espírita, foi o autor dos pontos. Mas eu tratei tudo livremente. Eu também tenho dois pontos lá.”

Influências

“Fui muito ligado ao Jacob [Jacob Bittencour], Heitor dos Prazeres, João da Baiana [João Machado Guedes], Bide [Alcebíades Barcelos], Marçal [Armando Marçal] e Luciano Perrone. Cada um me deu uma coisa. Quando conheci Pixinguinha, quase não se tocava música popular brasileira. O negócio era tango, fox-trot. O jazz ganhou o mundo, porque não se exigia uma orquestra cara. Apenas piano, contrabaixo, um ou outro instrumento de sopro. Jazz é a música popular mais evoluída do mundo e é claro que me influenciou.”

Minha música é toda brasileira, baseada em temas folclóricos e urbanos do Rio de Janeiro. Agora, ninguém tira nada do nada, portanto, tem sempre que haver influências.”

Pontos de vista

GOSTO MUSICAL

“Eu gosto muito de música. Em qualquer parte que eu vou, sempre a gente aprende alguma coisa, sempre. Quando ouço música, sou um músico vendo um quadro do Portinari: gosto ou não gosto do som que está saindo, não me preocupa a técnica”.

MÚSICA ERUDITA

“Aqui no Brasil, não dá… Eu gostaria de viver apenas da música erudita, o que é muito difícil. Talvez, nos países socialistas não seja assim mas, aqui, viver do direito autoral das composições não dá (…)”
“Quem é que grava música de concerto no Brasil? Se eu fosse tentar viver das minhas composições, eu estaria maluco, hoje. Já teria me suicidado.”

“A primeira vez que eu saí do Brasil fui para Buenos Aires, para dirigir o programa a Hora do Brasil, isso no tempo da Rádio Nacional, em 1941. Eu fui diretor, lá, fui para organizar a orquestra. Levei então o Luciano Perrone [baterista], o pistonista Marino Pissiali, o Zacarias [saxofonista Aristides Zacarias]. Para depois contratar uma orquestra de lá. Fiquei oito meses naquela cidade, que é fantástica. Lá você é respeitado. Quando eu cheguei, uma semana depois, fui convidado por um jornalista para um almoço, oferecido a mim [homenagem a Radamés, organizada por músicos e críticos locais]. Eu disse: mas eu não fiz nada, ainda. E ele: ‘nós já conhecemos o que você fez no Brasil’. Aí fizeram um almoço, com cinquenta pessoas, no teatro Colón, críticos, artistas, cantores, escritores. Eu fiquei maluco, não era possível. Não é pela homenagem, é pelo sentido de que a cultura é outra. Na volta, quando eu cheguei aqui (…), tive uma decepção tão grande, quase que jurei nunca mais sair do Brasil. Porque a volta é triste, sabe?”

MÚSICA POPULAR

“Eu sempre trabalhei em música popular e gosto muito. Aliás, devo a isso eu fazer alguma coisa de brasileiro, hoje. Aprendendo com o povo, pois só o povo ensina essa coisa.”

“Sempre me interessei muito pela música popular, talvez já pensando no futuro. Dizem que isso é premonição, não é? Em Porto Alegre, só se tocava tango argentino. O samba estava restrito ao Rio. Nem em São Paulo se tocava samba. Aliás, até há pouco tempo não se tocava samba em São Paulo [risos entre os entrevistadores].”

“Eu aprendi a tocar piano popular com os pianeiros. Eu ficava ouvindo os discos do Fontainha [provavelmente, discos de jazz, do seu professor de piano] e aprendendo como se usava os saxofones. É uma escola. (…) e eu já tocava num bloco de carnaval em Porto Alegre, organizado pelo Sotero Cosme, que se chamava Os Exagerados. Saíamos fantasiados de palhinha, eu tocava cavaquinho.”

“Nunca me frustrei em fazer música popular, faço isso com todo o prazer e gosto muito. Só de conviver com Pixinguinha, um sujeito fabuloso, com Garoto, Dino [Horondino José da Silva], João [João da Baiana], Jacob [Jacob do Bandolim], excelentes músicos. Se eu tivesse ido à Europa, talvez tivesse sido um grande pianista – pois tinha qualidades para isso – mas nunca seria um compositor brasileiro.”

BOSSA NOVA

“O movimento mais importante na música brasileira foi a bossa nova, mas o Garoto já acompanhava botando uns acordes diferentes. Esse negócio já veio de antes. A bossa nova não começou de repente. O João Gilberto vivia sempre com o Garoto, assim como o Baden. A bossa nova mudou a harmonia, e os compositores da época já tocavam violão muito melhor que os outros, já tinham um sentido harmônico diferente, usando acordes dissonantes e fazendo melodias em cima desses acordes, como é o caso do Tom [Tom Jobim]. A harmonia dele é toda muito boa, como é o caso do Johnny Alf, formidável.”

SAMBA EM DOIS MOVIMENTOS

“A bossa nova deu certo no mundo inteiro porque o samba tradicional ninguém sabe tocar. Se não fossem as escolas de samba, talvez tivesse acabado. Porque até o hino nacional se toca com marcação de marcha de rancho. O balanço do samba, ninguém toca isso no mundo inteiro. Ninguém toca. Talvez, os judeus [os músicos judeus][1], ninguém mais. A batida da bossa nova tirou essa coisa [a acentuação no segundo tempo do samba], mas ficou uma outra coisa, que ficou mesmo e está aí. Ninguém pode negar isso. Em vez de um samba, agora, nós temos dois.”

BOSSA NOVA NO EXTERIOR

“A bossa nova é brasileira e tornou internacional a música brasileira. A única maneira de o Brasil ser conhecido no mundo inteiro foi com a bossa nova. Aquela batida do surdo, no tempo fraco [no samba tradicional], em parte nenhuma no mundo existe. Só no Brasil. O mundo está acostumado a ouvir a marcação do bumbo ou do surdo no tempo forte [primeiro tempo]. A bossa nova, como mudou o ritmo, ficou mais fácil de tocar. Tanto que todo mundo, hoje, toca bossa nova. Outro dia eu estava vendo um filme francês em que tocam Carolina, do Chico [Chico Buarque de Holanda]. Tocam perfeitamente bem, lá”.

CRÍTICA

“Eu gravei um disco na Continental, com orquestra, e um crítico disse que o disco estava muito bonito, mas que eu o tinha levado, um pouco, para o lado clássico. Porque eu não tinha colocado o que todo mundo estava acostumado a ouvir.

Quando eu toquei pela primeira vez o Concerto Carioca N.º 1 com a Orquestra Sinfônica do Theatro Muncipal, e o Morelembaum dirigindo [maestro Henrique Morelembaum], o pessoal comentou: ‘Ih, no Municipal até samba estão tocando agora’. Hoje, graças a Deus, não tem mais isso.”

“Quando ganhei o Prêmio Shell de Música Erudita, em 1983, (…) apresentei o Concerto N.º 3 – Seresteiro, para piano e orquestra. Como a música desse concerto é muito brasileira, achei bom botar um regional de choro junto com o piano [convidou o bandolinista Joel Nascimento e a Camerata Carioca]. Os puristas não gostam muito de misturar regional com orquestra sinfônica, mas se o concerto é meu, eu escolho o repertório que vou tocar, é ou não é?”

RELIGIÃO

“Eu tinha um sítio, em Areal [RJ]. Tinha um padre italiano lá e a gente conversava muito. Um dia ele disse assim: eu estou meio preocupado porque o senhor não reza. Eu falei que rezava à minha maneira, mas que não ia à igreja. Aí, eu toquei um concerto no Teatro Municipal e ele ouviu pelo rádio. Depois, ele chegou para mim e disse: agora já sei como o senhor reza.”

CASAMENTO

“Casei a primeira vez com Vera [Vera Maira Bieri], uma moça, pianista, de São Leopoldo [RS]. Fui casado 35 anos com ela. Ela morreu. Eu não poderia conviver com uma pessoa que não fosse da música, não ia dar certo. A segunda [esposa], Nelly[2], também é pianista, cantora (…) também foi da Rádio Nacional, fez muitas novelas, cinema (…).”

MAU HUMOR

“Eu não sei disso, não… eu não acho que eu tenha mau humor (…) eu fico meio chateado, às vezes, é com a burrice, sabe? Eu acho que está tudo certo, tudo bem. Por que o mau humor? É porque é o seguinte: quando você trabalha, o sujeito custa a entender e aí acham que você que é o mal-humorado.”

NOTAS:

[1] Radamés dizia que os judeus eram o povo mais musical do mundo, e acreditava que lá fora, talvez, só um músico judeu poderia entender a acentuação do samba no tempo fraco, i.e., no segundo tempo.

[2] Nelly Martins, nome artístico de Nelly Biato Gnattali, segunda esposa de Radamés. Cantora, gravou vários discos nas décadas de 1950/60. Como atriz, protagonizou diversos filmes e novelas de televisão. Nascida no Rio de Janeiro, em 1942, diplomou-se como professora de piano na Escola Nacional de Música. Formou com Radamés um duo pianístico com atuação em programas de rádio e televisão, gravando um elepê na gravadora Codil, em 1969. Nelly abandonou a carreira artística, formando-se em fisioterapia e, posteriormente, em medicina.

Mestres e companheiros

ERNESTO NAZARETH (compositor, pianista)

“Conheci Nazareth com 25, 26 anos, quando ele tocava no Cinema Odeon, na Rio Branco com Sete de Setembro [ruas do centro do Rio de Janeiro]. Um dia eu estava passando, ouvi aquele som e era o próprio Nazareth tocando. Eu não entrava porque não tinha dinheiro pro cinema, mas do lado de fora eu o ouvia. Sempre juntava um povinho para ouvir.”

“Eu acho que não tocam hoje o Nazareth como se deve, porque pensam que Nazareth era um pianeiro, quando ele era um pianista. Não tocava nada staccato. Tocava, mesmo, como se estivesse tocando Chopin, usava o pedal, era um pianista muito bom.”

GAROTO
(Aníbal Augusto Sardinha, multiinstrumentista de cordas dedilhadas)

“Eu comprei uma flauta e comecei a estudar uns chorinhos. O Garoto comprou um sítio ao lado do meu, com o dinheiro que ganhou com a música São Paulo Quatrocentão, e enquanto a casa dele não ficava pronta, ele ficava lá em casa. E a noite a gente tocava, ele no violão e eu na flauta. Eu era o pior flautista acompanhado pelo melhor violonista.”

PIXINGUINHA

“Conheci Pixinguinha tocando no dancing Eldorado na Praça Tiradentes, na década de 1930. Era uma pequena orquestra de jazz, como muitas da época. No piano, Centopeia, extraordinário. No ganzá, Vidraça. Eles faziam uma sessão de choro, e eu ali, aprendendo.”

“A gente trabalhava na RCA Victor, o Pixinguinha era flautista de lá, com os Diabos do Céu. Ele fazia uns arranjos e já era samba. Pixinguinha era bom, mesmo, como flautista e compositor. Eu era o pianista da orquestra. Agora, quando eu fazia os arranjos de música romântica, samba-canção, valsa… Pixinguinha era o flautista e o violinista era o Romeu Ghypsman.”

“Depois, eu fiz muita amizade com ele, porque Pixinguinha era um sujeito excepcional. Tão bom quanto ele só o meu pai. E como compositor eu o acho excepcional e foi um flautista fabuloso.”

TOM JOBIM (Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, compositor, pianista, arranjador)

“Eu morava lá no edifício Igrejinha, no Posto 6 [Copacabana], e o Tom ia lá bater papo. Ele estava naquela ‘fossa’ e veio pedir conselho, e eu disse: ‘Ô Tom, ninguém vai te ensinar nada, porque também aconteceu isso comigo. Você deixa sair o que tem dentro de você e pronto, só isso. Fica prendendo, não acontece nada. Você não precisar procurar ninguém, porque ninguém vai te ensinar coisa nenhuma. Você vai fazer uma grande composição para piano e orquestra, você vai dirigir e eu vou tocar piano’. Aí ele foi.”

Tom Jobim: “(…) Isso foi na Rádio Nacional, eu morria de medo, pois aqueles músicos são uma raça desgraçada. Aquele pessoal do sindicado que fica olhando pro relógio, faz queixa, ‘acabou o ensaio’. Então, o Radamés me ajudou a enfrentar essas coisas da vida,
essas feras.”

CHIQUINHO DO ACORDEON (Romeu Seibel, acordeonista)

“O Chiquinho já está comigo desde a Rádio Nacional. O Zé Mauro, que era o diretor da Rádio, disse: ‘Por que você não bota um acordeom na orquestra?’. Eu não queria. Aí chegou um magricela lá na rádio, chegado do sul, e começou a tocar. Aí eu disse: agora pode!”

JOSÉ MENEZES (multiinstrumentista de cordas dedilhadas)

“O Menezes também começou comigo desde a Rádio Nacional. Naquele tempo tinha três violões espetaculares: o Menezes, que tocava violão, cavaquinho e viola caipira, o Garoto [Augusto Aníbal Sardinha] e o Bola Sete [Djalma de Andrade].

PEDRO VIDAL RAMOS (contrabaixista)

“O Vidal era o contrabaixista da orquestra da Rádio Nacional. Ele chegou lá para dar uma ‘canja’, como substituto, e eu disse pro Zé Mauro: contrata esse contrabaixo, porque é esse que vai servir pra gente, para a música popular.”

LUCIANO PERRONE (percussionista sinfônico, baterista)

“Eu conheci o Luciano em 1929 e começamos a trabalhar juntos. Esse negócio de transferir o ritmo para os metais foi ideia do Luciano. Ele era um ótimo baterista da orquestra e um dia disse: ‘Por que você não bota nos metais esse ritmo da bateria?’ Então eu comecei a fazer. Hoje a gente não toca mais porque é só rock. Então, ficamos encostados.”

Luciano Perrone: “(…) Radamés é impermeável, porque quando ele faz música popular é música popular; quando ele faz música de concerto é música de concerto. Uma não atrapalha a outra.”

Não estou satisfeito com a situação dos músicos no Brasil, mas estou satisfeito comigo mesmo. Eu sou feliz. Casei duas vezes, muito bem casado. Tenho bons amigos, sempre tive. O Luciano [Luciano Perrone] me convida para almoçar todo mês. Tenho meu dinheiro para tomar um chopezinho. Quando não tenho, o Tom[1] paga.”

NOTAS: 

[1] Tom Jobim e Radamés foram vizinhos, durante muitos anos, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.