“(…) Fora da boléia onde se agridem os ritualistas da burocracia, Radamés Gnattali exerceu-se com uma dignidade que é própria dos artistas que nasceram para florescer dentro de uma marginalidade em que vivem confinados. A palavra cultura ele a cultuou em seu terço de sons, em seus patuás grafitados por notas musicais, nos búzios que ele jogava sobre os pentagramas – único altar onde fazia uma celebração para-religiosa que independia do menor ou maior poder oficial, que aliás desprezava. No seu ateísmo cabiam alguns totens: Pixinguinha e Anacleto de Medeiros, por exemplo, coabitavam com Chagall em altar exclusivo. (…)”
Hermínio Bello de Carvalho (1935)
(poeta, escritor, compositor, letrista de música popular, produtor, ativista cultural)