PROJETO
Radamés Gnattali é reconhecido, nacional e internacionalmente, como um dos mestres maiores da música brasileira e latino-americana. Sua obra de concerto é volumosa, com cerca de 300 peças, entre solos para piano, violão, música de câmara e sinfônica.
No âmbito da música popular Radamés ocupa uma posição absolutamente singular, em relação a seus contemporâneos, pelo volume da sua produção, pelo aspecto presencial, intenso e colaborativo de sua atuação junto aos músicos populares. Labutando com pianeiros, sambistas e chorões, no lufa-lufa das estações de rádio e estúdios de gravação, Radamés sabia reconhecer, também, o quanto aprendia com eles.
“(…) Eu sempre trabalhei com música popular e gosto muito. Aliás, devo a isso eu fazer alguma coisa de brasileiro, hoje (…)”. “Minha música é toda brasileira, baseada em temas folclóricos, e urbanos do Rio de Janeiro”.
Explica-se, assim, por que Radamés gostava tanto de escrever para os amigos e seus instrumentos pouco contemplados pelos compositores de sua época. Em seu catálogo de música erudita constam concertinos, concertos, sonatas e sonatinas, divertimentos e suítes para bandolim, acordeom, cavaquinho, bateria, guitarra elétrica, violão 7 cordas, pandeiro. E é a partir dessas obras que músicos da grandeza de Jacob do Bandolim, Edu da Gaita, Joel Nascimento, José Menezes, Chiquinho do Acordeom, Garoto sobem, pela primeira vez, ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro,para atuarem como concertistas.
Fundador do arranjo orquestral para a música popular brasileira, ao lado de Pixinguinha, Radamés foi, também, pioneiro na maneira sofisticada de orquestrar a música simples do cancioneiro urbano, sem jamais descaracteriza-la. O percussionista sinfônico e baterista Luciano Perrone, célebre por ter sistematizado a batucada do samba na bateria, na década de 1920, fez um comentário interessante sobre essa dicotomia estética do amigo maestro:
“Radamés é impermeável porquê quando ele faz música popular é música popular
e quando faz música de concerto é música de concerto. Uma não atrapalha a outra.
Como arranjador e regente, ele faz uma orquestra sinfônica tocar um samba sem
tirar-lhe o espírito, nada fica cheirando a sinfonia”.